terça-feira, 30 de março de 2010

Pesquisa analisa ação anti-inflamatória da Sacaca

Os efeitos da Sacaca, muito utilizada no norte do país para combater doenças que vão desde a malária até diabetes e controle do colesterol, é o foco da pesquisa de um grupo de alunos do curso de Medicina, da Universidade do Estado do Pará (UEPA). A intenção é comprovar o efeito anti-inflamatório da Sacaca e avaliar seu resultado no combate à Miosite, uma inflamação muscular originária de processos infecciosos, de causas não definidas, surgidas espontaneamente ou de causa desconhecida.

As miosites podem acometer crianças e idosos, e são caracterizadas principalmente por dores nos músculos, que podem ser em qualquer parte do corpo, sendo mais frequente nos ombros e na parte superior dos braços, da bacia e das coxas (cintura pélvica). Outros sintomas também incluem dor muscular, cansaço, edemas (inchaços), manchas na face e nas articulações e febre. Quando grave, pode provocar dificuldade de respiração.

"A ideia surgiu pela grande incidência de processos inflamatórios na população, fazendo com que muitas pessoas utilizem a medicina popular, através do uso de plantas fitoterápicas. Ainda hoje nas regiões mais pobres do país, e até mesmo nas grandes cidades brasileiras, plantas medicinais são encontradas em feiras livres e mercados populares, até mesmo cultivadas em quintais residenciais", diz Renato Borges, um dos alunos envolvidos.

Os dados são confirmados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que informa que 80% das populações de países em desenvolvimento utilizam práticas tradicionais e, desse total, 85% fazem uso de plantas medicinais. No Pará, as folhas e cascas do caule da Sacaca costumam ser utilizadas em forma de chá, no combate a diabetes, diarreia, malária, febre, problemas estomacais, rins, vesícula e no controle de índices elevados de colesterol.

O chá com as folhas da sacaca também é costumeiramente usado por quem deseja emagrecer. Porém, foi verificado no laboratório e confirmado em clínicas médicas de todo o país que a sacaca é hepatotóxica, ou seja, pode causar lesões graves no fígado e, em alguns casos, levar o paciente à morte. De acordo com os pesquisadores, o consumo indiscriminado da sacaca foi o responsável por casos de hepatite grave e duas mortes, só no Estado do Pará.

"O uso do chá foi apontado como causa de hepatite aguda, motivo este que fez com que parassem de comercializar a sacaca em lojas especializadas. É necessário deixar claro que não é indicado que as pessoas fiquem ingerindo o chá indiscriminadamente. Essa pesquisa é para fins científicos, podendo ser usada, futuramente, para a criação de medicamentos especificamente de substâncias antiinflamatórias, sem causar males à saúde das pessoas", diz Taurino Neto, estudante de Medicina.

Como as folhas são utilizadas com fins anti-inflamatórios, a equipe iniciou a pesquisa no Laboratório de Cirurgia Experimental da Uepa, como uma maneira de aprimorar e analisar a extensão desse efeito anti-inflamatório, o que poderia futuramente servir como base para a criação de novos remédios no combate à miosite, com a vantagem das substâncias serem de fácil obtenção e baixo custo.

Na verificação do seu efeito na miosite, a doença foi induzida em 30 ratos, divididos em grupos que receberam o tratamento com a sacaca e com outros medicamentos, que incluía o Meloxican, anti-inflamatório utilizado para combater a doença. O resultado final das pesquisas, iniciadas em 2008, deve sair nas próximas semanas. Participam da pesquisa, os alunos Aline Pozzebon Gonçalves, Gabriela Trindade Góes, Renato Garcia Lisboa Borges e Taurino Neto, o patologista Edvaldo Silveira, orientados pelo médico e pesquisador Marcus Vinicius Henriques Brito.

Vanessa Monteiro - Uepa


Fonte: Agência Pará

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